Quem me conhece sabe, o quanto sou apaixonado, pela doce voz de Maria Bethania.
Bethania, foi algo muito representativo na minha infancia, sempre a escutei desde que nasci, ao ouvir sua voz, meu espirito entra num estado de regressao, e onde eu volto a minha infancia, onde me lembro dos sabados, dia de faxina geral na minha casa, minhas tias limpando,cozinhando, cantarolando e so se calando para ouvir Bethania recitar suas belas poesias.
Cresci, ouvindo de tudo, de tudo que absorvi, pelas pessoas mais velhas, como Clara Nunes, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Vicente Celestino, Djavan, Leo Jaime, Legiao Urbana...e claro se misturando as novidades que se apresentavam na minha adolescencia, como Marisa Monte, Daniela Mercury,Arnaldo Antunes, Lenine, e muitos outros...
Faz algumas semanas, eu fiquei feliz e indignado ao mesmo tempo, feliz por saber que Bethania, esta captando verba para um blog de poesias, onde ela gravara 365 videos, recitando poesias, onde seram postados um video por dia. Achei de uma alegria muito valiosa, em saber que sera uma forma mais direta e barata, para que crianças da rede publica, para crianças que talvez morem no alto do morro na favela, possa ir numa lan house e escutar e se emocionar com a poesia.
Agora, indignado e muito, creio que tinhamos que trocar a nacionalidade do Brasil, e titular nasceu no Brasil e Indignado.
Pois vira e mexe, e como ficamos!
mas a minha indgnaçao foi com o proprio povo, esse povinho suado nojento, de mente futil, que pensa que sinonimo de cultura e banda calipso, que poesias sao as letras de um zeze di camargo.
criticaram, Bethania e acusaram de mil coisas, e nao veem que ela so quer dar chance aos menos favorecidos em ter acesso ao conhecimento.
Mas justiça de Yansan seja feita, e nao vejo a hora do blog O MUNDO PRECISA DE POESIA estrear. Pois ela vencera os velhos preconceitos, e ajudara essas pobres crianças a terem acesso a um pouco de conhecimento.
Enquanto o blog de Bethania, nao fica pronto, eu deixo aqui alguns dos mais belos textos,poemas e poesias, dito pela a Abelha Rainha em seus espetaculos, ao longo dos seus 46 anos de carreira:
"O desconhecido no prédio vizinho me olha, e eu o olho.
Existe um muro e um abismo que nos separa.
Eu vou até o muro, espio o abismo e tenho medo.
Eu tenho medo, mas começo a perder"
(Fernando Pessoa)
"Num meio-dia de fim de primavera,
Eu tive um sonho como uma fotografia.
Eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte,Mas era outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva, A arrancar flores para deitar fora,E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu,Era nosso demais para fingir-se De segunda pessoa da trindade.
Num dia que Deus estava dormindo,E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três:Com o primeiro,
Ele fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido;
Com o segundo,Ele se criou eternamente humano e menino;
E com o terceiro,Ele criou um cristo eternamente na cruz,E deixou-o pregado na cruz que há no céu,
E que serve de modelo às outras.
Depois ele fugiu para o sol,
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje ele vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita, de riso natural,Limpa o nariz com o braço direito, Chapinha nas poças d'água,Colhe as flores, gosta delas, esquece...
Atira pedra aos burros,Colhe as frutas nos pomares,E foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam,E que toda gente acha graça,Ele corre atrás das raparigas que levam as bilhas na cabeça,E levanta-lhes a saia.
A mim, ele me ensinou tudo.Ele me ensinou a olhar para as coisas,Ele me aponta todas as cores que há nas flores,E me mostra como as pedras são engraçadas Quando a gente as tem na mão e olha devagar pra elas.
Damo-nos tão bem um com outro na companhia de tudo,Que nunca pensamos um no outro.
Vivemos juntos os dois, como um acordo íntimo.
Como a mão direita, e a esquerda.
Ao anoitecer, nós brincamos as cinco pedrinhas No degrau da porta de casa.
Graves, como convém a um Deus, e a um poeta.Como se cada pedra fosse todo o universo,
E fosse um perigo muito grande deixa-la cair no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens.E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ele ri dos reis, e dos que não são reis,E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.
Depois ele adormece, E eu o levo no colo para dentro da minha casa,Deito-o na minha cama,Despindo-o lentamente,Como seguindo um ritual todo humano e todo materno,Até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma.
Às vezes ele acorda de noite,Brinca com meus sonhos, Vira uns de perna pro ar,Pões uns por cima dos outros,E bate palma sozinho, Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer filhinho,Seja eu a criança, o mais pequeno,Pega-me tu ao colo, E leva-me para dentro da tua casa,Deita-me na tua cama,Despe o meu ser,Cansado e humano,Conta-me histórias,Caso eu acorde para eu tornar a adormecerE dá-me sonhos teusPara eu brincar." Trecho do "Poema do menino Jesus"(Fernando Pessoa)
"Fiz de mim o que não soube, e o que eu queria fazer de mim e não fiz
O dominó que eu vesti era errado
Conheceram-me logo por quem eu era
E eu não desmenti, eu perdi-me
Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara"
(Fernando Pessoa)
"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu posso lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure" (Vinícius de Moraes)
"O encontro de dois
olho a olho, cara a cara
e quando estiveres perto
eu arrancarei teus olhose os colocarei no lugar dos meu
se tu arrancaras os meus olhos
e os colocarás no lugar dos teus
então, eu te olharei com teus olhos
e tu me olharas com os meus"
(Clarice Lispector)
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil, no sentido mesquinho e infame da vileza.
(Álvaro de Campos)
Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto na certeza de que alguém segura minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava a seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre. Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou a cidade era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista.Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo.Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando.A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só ai eu vi que eu estava sozinha. (Antônio Bivar)
Enquanto me permite o destino, eu vou sendo os personagens que eu criei
Mas na vida tem sempre aquele que me indica a ilusão como caminho
(Isabel Camara)
Tem um aviso na porta do meu coração:
Quem não dança conforme o ritmo da casa
Não perca tempo tocando a campainha
(Isabel Camara) Mora comigo na minha casa um rapaz que eu amo. Aquilo que ele não me diz porque não sabe, vai me dizendo no seu corpo que dança para mim. Ele me adora e eu vejo através dos seus olhos um menino que aperta o gatilho do coração sem saber o nome do que pratica. Ele me adora e eu o gratifico só com os olhos que o vejo. Corto todas as cebolas da casa, arrasto os móveis, incenso. Ele tem medo de dizer que me ama. E me aperta e mão, e me chama de amiga...(Isabel Camara)
Eu quero ser sempre aquilo com quem eu simpatizo,e eu torno-me sempre, mais cedo ou mais tarde aquilo com quem eu simpatizo.E eu simpatizo com tudo.São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,e são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores tanto,porque ser inferior é diferente de ser superior,e isso é uma superioridade a certos momentos de visão.Eu simpatizo com alguns homenspelas suas qualidades de carátercom outros eu simpatizo pela falta dessas mesmas qualidadese com outros ainda eu simpatizo por simpatizar com elesporque eu sou rainha, absoluta na minha simpatiabasta que ela exista para que eu tenha razão de ser!
(Fernando Pessoa)
Pra onde vai minha vida e quem a leva?
Por que eu faço sempre o que eu não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim eu desconheço é que me guia?
(Maria Bethania)
Minha boca ficará muda e serei incapaz de compreender o escudo da misericórdia, se o amor se for de mim. Estarei preso à terra pela manhã, se minhas asas se fecharem durante a noite. E aí, o que estenderei eu, para saudar o sol em sua chegada?
(autor desconhecido - poema declamado no show pasaro da manha - 1976)
Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de Hera Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela pra ele é ninguém. Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada. E se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro
Chega onde em sono ela mora E, indo tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A princesa que dormi
(Fernando Pessoa)
Eu quero ser possuída por você, pelo seu corpo, pela sua proteção, pelo seu espírito, pelo seu mistério, pelo seu sangue... Me ama... Quero que você me ame e fique eternamente me amando, dentro de mim, com sua carne, com seu amor, eternamente, infinitamente dentro de mim, me envolvendo, me decifrando, me consumindo, me revelando - como uma tarde, dentro do elevador, no verão, voltando da praia, e nós não conseguimos esperar o elevador acabar de subir, e você me abraçou e eu te abracei, e quanto mais eu me entregava mais nascia o meu desejo, e mais sobrava só o desejo, e mais eu te queria sem palavras, sem pensamento, a vida inteira resumida só no desejo da tua boca dizendo o meu nome, da tua mão conduzindo minha mão, do teu corpo revelando o meu corpo, como se o mundo fosse pela primeira vez. Você, meu ponto de referência dentro desta cidade.
(Jose Vicente)
Minha mãe sempre me diz, quando chega o verão:
Formiga quando quer se perder cria asa
(Maria Bethania)
Me insinuarei nos quatro cantos do mundo, vibrarei nos canjerês do mar. Almas desesperadas, eu, vos amo. Almas insatisfeitas, ardentes. Detesto os que se tapeiam, os que brincam de cabra-cega com a vida, eu odeio os homens práticos.
( Murilo Mendes)
"Outrora eu era daqui,e hoje regresso estrangeiro, forasteiro do que vejo e ouço,velho de mim.
Já vi tudo, ainda o que nunca vi,Nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui"
Extraído do Livro do "Desassossego"Fernando Pessoa
"Eu agi sempre,Eu agi sempre para dentro.Eu nunca toquei na vida.
Nunca soube como se amava...Apenas soube como sonhava amar.
Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos,
É que às vezes eu queria julgar que as minhas mãos eram de princesa,
Gostava de ver a minha face refletida,Porque podia sonhar que era a face de outra criatura." Extraído do Livro do "Desassossego"Fernando Pessoa
"Fiz de mim o que não soube, e o que eu queria fazer de mim e não fiz
O dominó que eu vesti era errado
Conheceram-me logo por quem eu eraE eu não desmenti, eu perdi-me
Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara" Extraído do poema "Tabacaria"Alvaro de Campos
"Todas as cartas de amor sãoRidículas.
Não seriam cartas amor se não fossemRidículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Tem de ser Ridículas
Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso
Cartas de amor Ridículas.Afinal,Só as criaturas que nunca escreveram
de amor,É que são Ridículas." Extraído do poema "Todas as Cartas de Amor São"Álvaro de Campos
"Quanto a mim...O amor passou.Eu só lhe peço que não faça como a gente vulgar,e não me volte a cara quando passe por si,nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor.Fiquemos, um perante o outro,como dois conhecidos desde a infância,que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições,conservam num escaninho da alma,a memória de seu amor antigo e inútil." Extraído do poema " Cartas de Amor"Fernando Pessoa
"Não sei sentir, não sei ser humano,não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens,meus irmãos na terra.Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido,Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo,Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri.Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.E fiquei tão triste como se tivesse querido vive-los e não conseguisse.Amei e odiei como toda gente.Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.Não sei se sinto demais ou de menos,Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,de sair para fora de todas as casas,de todas as lógicas, de todas as sacadase ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos." Extraído do poema " Passagem das Horas"Álvaro de Campos
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Pões quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive." Extraído do poema "Para ser grande"Ricardo Reis
"O poeta é uma fingidor
Finge tão completamente que chega a fingir
Que é dor, a dor que deveras sente Trecho do poema "Autopscografia"Fernando Pessoa
"Senhora das tempestades e dos mistérios originais
Quando tu chegas,a terra treme do lado esquerdo
Trazes a assombração
As conjunções fatais
E as vozes negras da noite
Senhora do meu espanto e do meu medo
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
Há uma lua do avesso quando chegas
Há um poema escrito em página nenhuma
Quando caminhas sobre as águas
Senhora dos sete mares
Conjugação de fogo e luz
E no entanto eclipse
Trazes a linha magnética da minha vida
Senhora da minha morte
Quando tu chegas, começa a música
Senhora dos cabelos de alga
Onde se escondem as divindades
Trazes o mar, a chuva, as procelas
Batem as sílabas da noite
Batem os sons, os signos, os sinais
E és tu a voz que dita
Trazes a festa e a despedida
Senhora dos instantes com tua rosa dos ventos
E teu cruzeiro do sul
Senhora dos navegantes
Com teu astrolábio e tua errância
Tudo em ti é partida
Tudo em ti é distância
Tudo em ti é retorno
Senhora do vento
Com teu cavalo cor de acaso
Teu chicote, tua ternura
Sobre a tristeza e a agonia
Galopas no meu sangue com teu cateter chamadoPégaso
Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos
Quando tu chegas, dançam as divindades
E tudo é uma alquimia
Tudo em ti é milagre
Senhora da energia" Poema "Senhora das tempestades" - Manuel Alegre
"É um sonho dantesco, tombadilho
Tinir de ferros, estalar do açoite
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar
Negras mulheres
Levantando as tetas
Magras crianças
Cujas bocas pretas
Regam o sangue das mães
Outras moças
Mas nuas, assustadas
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoas vãs
Um de raiva delira
Outro enlouquece
Outro que de martírios embrutece
Chora e dança ali
Senhor Deus dos desgraçados
Dizei-me vós Senhor Deus
Se é loucura, se é verdade tanto horror
Perante os céus
Quem esses desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Dize-o tu severa musa
Musa libérrima audaz
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão
Homens simples, fortes, bravos
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão
Lá nas areias infindas das palmeiras do país
Nasceram crianças lindas
Viveram moças gentis
Passam um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus
Adeus oxossa do monte
Adeus palmeira da fonte
Adeus amores
AdeusSenhor
Deus dos desgraçados
Dizei-me vós Senhor
DeusSe é loucura se é verdade tanto horror
Perante os céus
Oh mar por que não apagas de tuas vagas
De teu manto este borrão
Astros, noite, tempestade
Rolai das imensidades
Varrei os mares tufão
Existe um povo
Que a bandeira empresta
Para cobrir tanta infâmia e covardia
Que deixa transformar-se nesta festa
Em manto impuro de bacante fria
Meu Deus, me Deus
Mas que bandeira é essa
Que impudente na gávea tripudia Auriverde pendão da minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança
Antes te houvessem roto na batalha
Que servires a um povo de mortalha
Mas a infâmia é demais
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do novo mundo
Andrada arranca este pendão dos ares
Colombo fecha a porta de teus mares" Poema "Navio negreiro" - Castro Alves
"felicidade se acha em horinhas de descuido"Guimaraes Rosa
"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
Oeste é meu norte Outros que contem
Passo por passo
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
Meu tempo é quando" "Poética 1"poema de Vinícius de Moraes
"Eu vou te contar que você não me conhece
E eu tenho que gritar isso,Porque você está surdo e não me ouve.
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo mas preso ao que eu criei
E não a mim
E quanto mais falo sobre a verdade inteira, um abismo maior nos separa.
Você não tem um nome e eu tenho
Você é um rosto na multidão,E eu sou o centro das atenções
Mas a mentira da aparência do que eu sou
E a mentira da aparência do que você é,Porque eu, eu não sou o meu nome
E você não é ninguém
O jogo perigoso que eu pratico aqui,Ele busca chegar ao limite possível da aproximação,
Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela.
Entre eu e você existe a notícia que nos separa
Eu quero que você veja a mim
Eu me dispo da notícia e a minha nudez parada
Te denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim, me livro das palavras com as quais você me veste." Texto de Fauzi Arap
"mar,metade de minha alma e feita de maresia"
sophia de mello breyner
" quando eu morrer, voltarei para buscar,
os instantes, que naovivi perto do mar"
sophia de mello breyner
2 comentários:
Adorei
Adorei
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