sábado, 2 de abril de 2011

DEPOIS DIZEM QUE O MUNDO NAO PRECISA DE POESIA


Quem me conhece sabe, o quanto sou apaixonado, pela doce voz de Maria Bethania.

Bethania, foi algo muito representativo na minha infancia, sempre a escutei desde que nasci, ao ouvir sua voz, meu espirito entra num estado de regressao, e onde eu volto a minha infancia, onde me lembro dos sabados, dia de faxina geral na minha casa, minhas tias limpando,cozinhando, cantarolando e so se calando para ouvir Bethania recitar suas belas poesias.

Cresci, ouvindo de tudo, de tudo que absorvi, pelas pessoas mais velhas, como Clara Nunes, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Vicente Celestino, Djavan, Leo Jaime, Legiao Urbana...e claro se misturando as novidades que se apresentavam na minha adolescencia, como Marisa Monte, Daniela Mercury,Arnaldo Antunes, Lenine, e muitos outros...

Faz algumas semanas, eu fiquei feliz e indignado ao mesmo tempo, feliz por saber que Bethania, esta captando verba para um blog de poesias, onde ela gravara 365 videos, recitando poesias, onde seram postados um video por dia. Achei de uma alegria muito valiosa, em saber que sera uma forma mais direta e barata, para que crianças da rede publica, para crianças que talvez morem no alto do morro na favela, possa ir numa lan house e escutar e se emocionar com a poesia.

Agora, indignado e muito, creio que tinhamos que trocar a nacionalidade do Brasil, e titular nasceu no Brasil e Indignado.

Pois vira e mexe, e como ficamos!

mas a minha indgnaçao foi com o proprio povo, esse povinho suado nojento, de mente futil, que pensa que sinonimo de cultura e banda calipso, que poesias sao as letras de um zeze di camargo.

criticaram, Bethania e acusaram de mil coisas, e nao veem que ela so quer dar chance aos menos favorecidos em ter acesso ao conhecimento.

Mas justiça de Yansan seja feita, e nao vejo a hora do blog O MUNDO PRECISA DE POESIA estrear. Pois ela vencera os velhos preconceitos, e ajudara essas pobres crianças a terem acesso a um pouco de conhecimento.

Enquanto o blog de Bethania, nao fica pronto, eu deixo aqui alguns dos mais belos textos,poemas e poesias, dito pela a Abelha Rainha em seus espetaculos, ao longo dos seus 46 anos de carreira:


"O desconhecido no prédio vizinho me olha, e eu o olho.

Existe um muro e um abismo que nos separa.

Eu vou até o muro, espio o abismo e tenho medo.

Eu tenho medo, mas começo a perder"

(Fernando Pessoa)

"Num meio-dia de fim de primavera,

Eu tive um sonho como uma fotografia.

Eu vi Jesus Cristo descer à Terra.

Ele veio pela encosta de um monte,Mas era outra vez menino,

A correr e a rolar-se pela erva, A arrancar flores para deitar fora,E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Ele tinha fugido do céu,Era nosso demais para fingir-se De segunda pessoa da trindade.

Num dia que Deus estava dormindo,E o Espírito Santo andava a voar,

Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três:Com o primeiro,

Ele fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido;

Com o segundo,Ele se criou eternamente humano e menino;

E com o terceiro,Ele criou um cristo eternamente na cruz,E deixou-o pregado na cruz que há no céu,

E que serve de modelo às outras.

Depois ele fugiu para o sol,

E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje ele vive na minha aldeia comigo.

É uma criança bonita, de riso natural,Limpa o nariz com o braço direito, Chapinha nas poças d'água,Colhe as flores, gosta delas, esquece...

Atira pedra aos burros,Colhe as frutas nos pomares,E foge a chorar e a gritar dos cães.

Só porque sabe que elas não gostam,E que toda gente acha graça,Ele corre atrás das raparigas que levam as bilhas na cabeça,E levanta-lhes a saia.

A mim, ele me ensinou tudo.Ele me ensinou a olhar para as coisas,Ele me aponta todas as cores que há nas flores,E me mostra como as pedras são engraçadas Quando a gente as tem na mão e olha devagar pra elas.

Damo-nos tão bem um com outro na companhia de tudo,Que nunca pensamos um no outro.

Vivemos juntos os dois, como um acordo íntimo.

Como a mão direita, e a esquerda.

Ao anoitecer, nós brincamos as cinco pedrinhas No degrau da porta de casa.

Graves, como convém a um Deus, e a um poeta.Como se cada pedra fosse todo o universo,

E fosse um perigo muito grande deixa-la cair no chão.

Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens.E ele sorri, porque tudo é incrível.

Ele ri dos reis, e dos que não são reis,E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.

Depois ele adormece, E eu o levo no colo para dentro da minha casa,Deito-o na minha cama,Despindo-o lentamente,Como seguindo um ritual todo humano e todo materno,Até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma.

Às vezes ele acorda de noite,Brinca com meus sonhos, Vira uns de perna pro ar,Pões uns por cima dos outros,E bate palma sozinho, Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer filhinho,Seja eu a criança, o mais pequeno,Pega-me tu ao colo, E leva-me para dentro da tua casa,Deita-me na tua cama,Despe o meu ser,Cansado e humano,Conta-me histórias,Caso eu acorde para eu tornar a adormecerE dá-me sonhos teusPara eu brincar." Trecho do "Poema do menino Jesus"(Fernando Pessoa)

"Fiz de mim o que não soube, e o que eu queria fazer de mim e não fiz

O dominó que eu vesti era errado

Conheceram-me logo por quem eu era

E eu não desmenti, eu perdi-me

Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara"

(Fernando Pessoa)

"De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu posso lhe dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure" (Vinícius de Moraes)

"O encontro de dois

olho a olho, cara a cara

e quando estiveres perto

eu arrancarei teus olhose os colocarei no lugar dos meu

se tu arrancaras os meus olhos

e os colocarás no lugar dos teus

então, eu te olharei com teus olhos

e tu me olharas com os meus"

(Clarice Lispector)

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil, no sentido mesquinho e infame da vileza.

(Álvaro de Campos)

Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto na certeza de que alguém segura minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava a seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre. Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou a cidade era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista.Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo.Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando.A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só ai eu vi que eu estava sozinha. (Antônio Bivar)

Enquanto me permite o destino, eu vou sendo os personagens que eu criei

Mas na vida tem sempre aquele que me indica a ilusão como caminho

(Isabel Camara)

Tem um aviso na porta do meu coração:

Quem não dança conforme o ritmo da casa

Não perca tempo tocando a campainha

(Isabel Camara) Mora comigo na minha casa um rapaz que eu amo. Aquilo que ele não me diz porque não sabe, vai me dizendo no seu corpo que dança para mim. Ele me adora e eu vejo através dos seus olhos um menino que aperta o gatilho do coração sem saber o nome do que pratica. Ele me adora e eu o gratifico só com os olhos que o vejo. Corto todas as cebolas da casa, arrasto os móveis, incenso. Ele tem medo de dizer que me ama. E me aperta e mão, e me chama de amiga...(Isabel Camara)

Eu quero ser sempre aquilo com quem eu simpatizo,e eu torno-me sempre, mais cedo ou mais tarde aquilo com quem eu simpatizo.E eu simpatizo com tudo.São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,e são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores tanto,porque ser inferior é diferente de ser superior,e isso é uma superioridade a certos momentos de visão.Eu simpatizo com alguns homenspelas suas qualidades de carátercom outros eu simpatizo pela falta dessas mesmas qualidadese com outros ainda eu simpatizo por simpatizar com elesporque eu sou rainha, absoluta na minha simpatiabasta que ela exista para que eu tenha razão de ser!

(Fernando Pessoa)

Pra onde vai minha vida e quem a leva?

Por que eu faço sempre o que eu não queria?

Que destino contínuo se passa em mim na treva?

Que parte de mim eu desconheço é que me guia?

(Maria Bethania)

Minha boca ficará muda e serei incapaz de compreender o escudo da misericórdia, se o amor se for de mim. Estarei preso à terra pela manhã, se minhas asas se fecharem durante a noite. E aí, o que estenderei eu, para saudar o sol em sua chegada?

(autor desconhecido - poema declamado no show pasaro da manha - 1976)

Conta a lenda que dormia

Uma princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida,

Se espera, dormindo espera.

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de Hera Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado.

Ele dela é ignorado.

Ela pra ele é ninguém. Mas cada um cumpre o Destino

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino

Pelo processo divino

Que faz existir a estrada. E se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,

E vencendo estrada e muro

Chega onde em sono ela mora E, indo tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era

A princesa que dormi

(Fernando Pessoa)

Eu quero ser possuída por você, pelo seu corpo, pela sua proteção, pelo seu espírito, pelo seu mistério, pelo seu sangue... Me ama... Quero que você me ame e fique eternamente me amando, dentro de mim, com sua carne, com seu amor, eternamente, infinitamente dentro de mim, me envolvendo, me decifrando, me consumindo, me revelando - como uma tarde, dentro do elevador, no verão, voltando da praia, e nós não conseguimos esperar o elevador acabar de subir, e você me abraçou e eu te abracei, e quanto mais eu me entregava mais nascia o meu desejo, e mais sobrava só o desejo, e mais eu te queria sem palavras, sem pensamento, a vida inteira resumida só no desejo da tua boca dizendo o meu nome, da tua mão conduzindo minha mão, do teu corpo revelando o meu corpo, como se o mundo fosse pela primeira vez. Você, meu ponto de referência dentro desta cidade.

(Jose Vicente)

Minha mãe sempre me diz, quando chega o verão:

Formiga quando quer se perder cria asa

(Maria Bethania)

Me insinuarei nos quatro cantos do mundo, vibrarei nos canjerês do mar. Almas desesperadas, eu, vos amo. Almas insatisfeitas, ardentes. Detesto os que se tapeiam, os que brincam de cabra-cega com a vida, eu odeio os homens práticos.

( Murilo Mendes)

"Outrora eu era daqui,e hoje regresso estrangeiro, forasteiro do que vejo e ouço,velho de mim.

Já vi tudo, ainda o que nunca vi,Nem o que nunca verei.

Eu reinei no que nunca fui"

Extraído do Livro do "Desassossego"Fernando Pessoa

"Eu agi sempre,Eu agi sempre para dentro.Eu nunca toquei na vida.

Nunca soube como se amava...Apenas soube como sonhava amar.

Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos,

É que às vezes eu queria julgar que as minhas mãos eram de princesa,

Gostava de ver a minha face refletida,Porque podia sonhar que era a face de outra criatura." Extraído do Livro do "Desassossego"Fernando Pessoa

"Fiz de mim o que não soube, e o que eu queria fazer de mim e não fiz

O dominó que eu vesti era errado

Conheceram-me logo por quem eu eraE eu não desmenti, eu perdi-me

Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara" Extraído do poema "Tabacaria"Alvaro de Campos

"Todas as cartas de amor sãoRidículas.

Não seriam cartas amor se não fossemRidículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,Como as outras,

Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Tem de ser Ridículas

Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso

Cartas de amor Ridículas.Afinal,Só as criaturas que nunca escreveram

de amor,É que são Ridículas." Extraído do poema "Todas as Cartas de Amor São"Álvaro de Campos

"Quanto a mim...O amor passou.Eu só lhe peço que não faça como a gente vulgar,e não me volte a cara quando passe por si,nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor.Fiquemos, um perante o outro,como dois conhecidos desde a infância,que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições,conservam num escaninho da alma,a memória de seu amor antigo e inútil." Extraído do poema " Cartas de Amor"Fernando Pessoa

"Não sei sentir, não sei ser humano,não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens,meus irmãos na terra.Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido,Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo,Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri.Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.E fiquei tão triste como se tivesse querido vive-los e não conseguisse.Amei e odiei como toda gente.Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.Não sei se sinto demais ou de menos,Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,de sair para fora de todas as casas,de todas as lógicas, de todas as sacadase ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos." Extraído do poema " Passagem das Horas"Álvaro de Campos

"Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Pões quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive." Extraído do poema "Para ser grande"Ricardo Reis

"O poeta é uma fingidor

Finge tão completamente que chega a fingir

Que é dor, a dor que deveras sente Trecho do poema "Autopscografia"Fernando Pessoa

"Senhora das tempestades e dos mistérios originais

Quando tu chegas,a terra treme do lado esquerdo

Trazes a assombração

As conjunções fatais

E as vozes negras da noite

Senhora do meu espanto e do meu medo

Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento

Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma

Há uma lua do avesso quando chegas

Há um poema escrito em página nenhuma

Quando caminhas sobre as águas

Senhora dos sete mares

Conjugação de fogo e luz

E no entanto eclipse

Trazes a linha magnética da minha vida

Senhora da minha morte

Quando tu chegas, começa a música

Senhora dos cabelos de alga

Onde se escondem as divindades

Trazes o mar, a chuva, as procelas

Batem as sílabas da noite

Batem os sons, os signos, os sinais

E és tu a voz que dita

Trazes a festa e a despedida

Senhora dos instantes com tua rosa dos ventos

E teu cruzeiro do sul

Senhora dos navegantes

Com teu astrolábio e tua errância

Tudo em ti é partida

Tudo em ti é distância

Tudo em ti é retorno

Senhora do vento

Com teu cavalo cor de acaso

Teu chicote, tua ternura

Sobre a tristeza e a agonia

Galopas no meu sangue com teu cateter chamadoPégaso

Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos

Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos

Quando tu chegas, dançam as divindades

E tudo é uma alquimia

Tudo em ti é milagre

Senhora da energia" Poema "Senhora das tempestades" - Manuel Alegre

"É um sonho dantesco, tombadilho

Tinir de ferros, estalar do açoite

Legiões de homens negros como a noite

Horrendos a dançar

Negras mulheres

Levantando as tetas

Magras crianças

Cujas bocas pretas

Regam o sangue das mães

Outras moças

Mas nuas, assustadas

No turbilhão de espectros arrastadas

Em ânsia e mágoas vãs

Um de raiva delira

Outro enlouquece

Outro que de martírios embrutece

Chora e dança ali

Senhor Deus dos desgraçados

Dizei-me vós Senhor Deus

Se é loucura, se é verdade tanto horror

Perante os céus

Quem esses desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Dize-o tu severa musa

Musa libérrima audaz

São os filhos do deserto

Onde a terra esposa a luz

Onde voa em campo aberto

A tribo dos homens nus

São os guerreiros ousados

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão

Homens simples, fortes, bravos

Hoje míseros escravos

Sem ar, sem luz, sem razão

Lá nas areias infindas das palmeiras do país

Nasceram crianças lindas

Viveram moças gentis

Passam um dia a caravana

Quando a virgem na cabana

Cisma da noite nos véus

Adeus oxossa do monte

Adeus palmeira da fonte

Adeus amores

AdeusSenhor

Deus dos desgraçados

Dizei-me vós Senhor

DeusSe é loucura se é verdade tanto horror

Perante os céus

Oh mar por que não apagas de tuas vagas

De teu manto este borrão

Astros, noite, tempestade

Rolai das imensidades

Varrei os mares tufão

Existe um povo

Que a bandeira empresta

Para cobrir tanta infâmia e covardia

Que deixa transformar-se nesta festa

Em manto impuro de bacante fria

Meu Deus, me Deus

Mas que bandeira é essa

Que impudente na gávea tripudia Auriverde pendão da minha terra

Que a brisa do Brasil beija e balança

Antes te houvessem roto na batalha

Que servires a um povo de mortalha

Mas a infâmia é demais

Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do novo mundo

Andrada arranca este pendão dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares" Poema "Navio negreiro" - Castro Alves

"felicidade se acha em horinhas de descuido"Guimaraes Rosa

"De manhã escureço

De dia tardo

De tarde anoiteço

De noite ardo A oeste a morte

Contra quem vivo

Do sul cativo

Oeste é meu norte Outros que contem

Passo por passo

Eu morro ontem

Nasço amanhã

Ando onde há espaço

Meu tempo é quando" "Poética 1"poema de Vinícius de Moraes

"Eu vou te contar que você não me conhece

E eu tenho que gritar isso,Porque você está surdo e não me ouve.

A sedução me escraviza a você

Ao fim de tudo você permanece comigo mas preso ao que eu criei

E não a mim

E quanto mais falo sobre a verdade inteira, um abismo maior nos separa.

Você não tem um nome e eu tenho

Você é um rosto na multidão,E eu sou o centro das atenções

Mas a mentira da aparência do que eu sou

E a mentira da aparência do que você é,Porque eu, eu não sou o meu nome

E você não é ninguém

O jogo perigoso que eu pratico aqui,Ele busca chegar ao limite possível da aproximação,

Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela.

Entre eu e você existe a notícia que nos separa

Eu quero que você veja a mim

Eu me dispo da notícia e a minha nudez parada

Te denuncia e te espelha

Eu me delato

Tu me relatas

Eu nos acuso e confesso por nós

Assim, me livro das palavras com as quais você me veste." Texto de Fauzi Arap

"mar,metade de minha alma e feita de maresia"

sophia de mello breyner

" quando eu morrer, voltarei para buscar,

os instantes, que naovivi perto do mar"

sophia de mello breyner